QUASE MEMÓRIA - O FILME




Baseado no romance Quase memória, de Carlos Heitor Cony, lançado em 1995 após um hiato de 20 anos na carreira do autor e que lhe rendeu um Prêmio Jabuti, o filme parte das memórias de um narrador, evocadas a partir de um embrulho que ele recebe, muito possivelmente enviado por seu pai.

Tal embrulho vai reacender velhas memórias de seus tempos de criança e adolescente, retratando a intensa relação de amor e afeto, cumplicidade e outros sentimentos que se criam e se desdobram entre pai e filho. 

Entretanto, um detalhe chama a atenção nesse episódio , apesar de todo o cuidado e dedicação dispensados na confecção daquele embrulho, como relatado nesse fragmento do romance:

Foi então que olhei bem o embrulho. A princípio apenas suspeitei. E ficaria na suspeita se não houvesse certeza. Uma das faces estava subscritada, meu nome em letras grandes e a informação logo embaixo, sublinhada pelo traço inconfundível: "Para o jornalista Carlos Heitor Cony". 
Era a letra de meu pai. A letra e o modo. Tudo no embrulho o revelava, inteiro, total. Só ele faria aquelas dobras no papel, só ele daria aquele nó no barbante ordinário, só ele escreveria meu nome daquela maneira, acrescentando a função que também fora a sua. Sobretudo, só ele destacaria o fato de alguém ter se prestado a me trazer aquele embrulho. Ele detestava o correio normal, mas se alguém o avisava que ia a algum lugar, logo encontrava um motivo para mandar alguma coisa a alguém por intermédio do portador. 
[...]
Até mesmo o cheiro --- pois o envelope tinha um cheiro --- era o cheiro dele, de fumo e água de alfazema que gostava de usar, metade por vaidade, metade por acreditar que a alfazema cortava o mau-olhado, do qual tinha hereditário horror. 
Recente, feito e amarrado há pouco, tudo no envelope o revelava: ele, o pai inteiro, com suas manias e cheiros.
Apenas uma coisa não fazia sentido. Estávamos --- como já disse --- em novembro de 1995. E o pai morrera, aos noventa e um anos, no dia 14 de janeiro de 1985. (CONY, p. 10-11, 1995)

Sim, o pai havia morrido há pelo menos dez anos. Então, como se explica esse embrulho enviado em data tão recente ao narrador? É o que vamos descobrir através das memórias que esse embrulho suscitará em seu destinatário, enquanto decide se abre ou não o pacote. 

Memórias pueris e cativantes que criam um clima de saudade e nostalgia, remetendo-nos às nossas próprias lembranças, fazendo-nos rir e chorar. Memórias que valem a pena ser revisitadas! Um filme que enternece e emociona.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Cony, H. Carlos. Quase memória. 24 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 

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