Seu trabalho literário raramente foi bem recebido pela crítica e pelo público. Mas indiferente a isso, ele escreveu bastante durante sua curta vida, aprimorando seu talento. Em 1817, publicou sua obra Poemas e em 1818 começou a escrever o longo poema Endymion, recebendo inúmeras críticas.
Nesse mesmo ano conheceu Fanny Brawne, sua vizinha em Hampstead, que seria o grande amor de sua vida (de quem o poeta foi noivo), tendo que separar-se dela em 1820 devido à doença.
"Seu amigo Charles Brown fez o relato comovente da primeira vez que Keats viu uma mancha de sangue no lençol: 'conheço a cor daquele sangue; é sangue arterial. Não há possibilidade de engano com tal cor: aquela gota de sangue é minha sentença de morte. Vou morrer'". (Doyle, p. 78, 2010)
Assim, na esperança de conseguir a cura, o poeta foi para a Itália, onde faleceu poucos meses depois. Em sua memória, Shelley escreveu o célebre poema, Adonais. Abaixo, uma de suas cartas para a amada:
Para Fanny Brawne, 8 de julho de 1819.
Minha gentil menina,
Tua carta me trouxe mais alegria do que qualquer coisa no mundo poderia trazer, a não ser tua presença; de fato, fico quase abismado por ver que a ausência de alguém pode exercer sobre meus sentidos o extravagante poder que sinto. Mesmo quando não penso em ti, sinto infiltrarem-se em mim tua ternura e uma natureza mais afetuosa.
Vejo que nem meus pensamentos, nem meus dias e noites mais infelizes me curaram do amor pela beleza, mas o tornaram tão intenso que me sinto um desgraçado por não estares comigo; ou ainda, respiro naquela espécie de paciência sombria que não pode ser chamada de vida. Não sabia antes o que era um amor como o que me fizeste sentir; não acreditava nele; minha fantasia temia que esse amor me devorasse em sua chama.
Porém, se me amares plenamente, embora possa haver fogo, ele não será mais do que podemos suportar quando regados e orvalhados pelos prazeres. Mencionas "pessoas horríveis" e me perguntas se delas depende eu tornar a ver-te. Procura compreender-me nessa questão, meu amor. Tenho tanto de ti em meu coração que preciso ser para ti um Mentor quando vejo uma ocasião de te ocorrer algum mal.
Eu jamais veria em teus olhos senão prazer, em teus lábios senão amor e em teus braços senão felicidade. Gostaria de ver-te desfrutar de divertimentos adequados às tuas inclinações e teus sentimentos, de modo que nossos amores pudessem ser um encantamento em meio a prazeres deleitáveis, e não um motivo de incômodo e preocupação.
No entanto, caso ocorra o pior, não sei se serei suficientemente filosófico para agir de acordo com minhas próprias lições; se visse minha resolução causar-te sofrimento, não teria essa capacidade. Por que não posso falar de tua beleza, se sem ela eu nunca poderia ter-te amado? Não consigo conceber o advento de um amor como o que sinto por ti se não fosse pela beleza.
É possível que exista uma espécie de amor pelo qual, sem sombra de descaso, tenho o maior respeito e que posso admirar nos outros, mas tal amor não tem a riqueza, a plenitude, o encantamento do sentimento a que prefiro. Portanto, permite que eu fale de tua beleza, embora para meu próprio risco, se fores tão cruel a ponto de experimentar-lhe o poder com mais alguém. Dizes que tenho medo de pensar que não me amas ---ao dizê-lo, me fazes desejar mais ainda estar a teu lado.
Estou aqui empregando conscienciosamente minhas habilidades; não se passa sequer um dia em que não rabisque versos brancos ou alinhave algumas rimas. Devo confessar (já que trato desse assunto) que te amo mais ainda por acreditar que me amaste por mim mesmo e por nada mais. Já encontrei mulheres que, tenho certeza, gostariam de se casar com um poema ou de ter a mão dada por um romance.
Vi teu cometa e só espero que ele tenha sido um sinal de que o pobre Rice, transformado pela doença numa companhia bastante melancólica, irá melhorar a ponto de ser capaz de dominar seus sentimentos e escondê-los de mim com um gracejo forçado. Cobri teus escritos de beijos na esperança de que tenhas procurado gratificar-me, deixando neles um pouco de mel. Como foi o teu sonho? Conta-o e eu o interpretarei para ti.
Sempre teu, meu amor!
John Keats
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DOYLE. U. Cartas de amor de homens notáveis. Trad. Doralice Lima. 1 ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2010.