Katherine Mansfield, cujo nome de batismo é Kathleen Mansfield Beauchamp foi uma escritora nascida em 1888 na Nova Zelândia, na época uma colônia britânica, tendo vivido muitos anos na Europa, entre a Inglaterra e a França.
Aclamada por ícones da Literatura Inglesa, como D.H. Lawrence e Virginia Woolf que chegou a declarar em seus diários uma certa inveja da escrita de Mansfield, "a única coisa que já invejei", a autora considerada uma das mais importantes do conto modernista ainda tem sua obra pouco conhecida entre nós.
Basicamente uma escritora de contos e poemas, Mansfield teve grande influência na obra de Clarice Lispector, que ao tomar contato pela primeira vez com suas páginas em um balcão de livraria teceu o seguinte comentário em seu livro de crônicas, Aprendendo a viver:
[...] Folheei quase todos os livros dos balcões, lia algumas linhas e passava para outro. E, de repente, um dos livros que abri continha frases tão diferentes que fiquei lendo, presa, ali mesmo. Emocionada, eu pensava: mas esse livro sou eu! E, contendo um estremecimento de profunda emoção, comprei-o. Só depois vim a saber que a autora não era anônima, sendo, ao contrário, considerada um dos melhores escritoras de sua época: Katherine Mansfield.
Mas, apesar das diversas semelhanças que podem ser encontradas entre as obras de ambas, como: a contemplação do cotidiano, a crítica social, as perspectivas da mulher, as relações humanas, o intimismo, a vida interior e os momentos de epifania das personagens, entre outras, Mansfield se destaca pela visão de mundo diferenciada dos modelos britânicos com forte enfoque na aristocracia inglesa, uma vez que a autora vinha de uma cultura, de uma paisagem e de uma realidade bem distintas de Londres.
É interessante ressaltar também que há trechos de seus contos que são verdadeiras prosas poéticas e outros, como no conto Psicologia, no qual as personagens (um escritor de romances numa atitude a la Freud, com um cachimbo no canto da boca passa as mãos pelo cabelo) e sua amiga travam o seguinte diálogo sobre o futuro do romance literário (o que não deixa de ser uma reflexão metalínguistica da autora):
´--- Ultimamente tenho pensado muito se o romance do futuro será psicológico ou não. Até que ponto você acha que a psicologia, enquanto psicologia, tem alguma coisa a ver com a literatura?
--- O que você diz é que há uma boa chance de que as misteriosas criaturas inexistentes, os jovens escritores de hoje, estejam apenas tentando se apropriar do campo do psicanalista?
--- É, isso mesmo. E creio que é porque essa geração, sabe que está doente e percebe que sua única chance de se recuperar é penetrar em seus sintomas... estudá-los exaustivamente, rastreá-los, tentar chegar à raiz do problema. (p.97)
Como se vê, parece que Katherine Mansfield já profetizava alguma coisa...
Referência Bibliográfica:
BRAGA, S. da G. Os melhores contos de Katherine Mansfield. Trad. Denise Bottmann. 1 ed. Porto Alegre: L&PM, 2016.
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