Discorrer sobre Guimarães Rosa ou Grande sertão: veredas, ou ainda sobre qualquer outra de suas obras é simplesmente chover no molhado. Praticamente tudo o que se podia dizer a respeito da genialidade do autor já foi dito pela grande maioria dos críticos literários brasileiros e até mesmo internacionais.
Entretanto, as várias leituras que suas obras permitem parece não se esgotarem nunca. A cada nova releitura, descobre-se uma nova faceta escondida dentro de suas obras. Grande sertão, talvez seja a obra que melhor traduza essa constatação. Ainda hoje vários pesquisadores e acadêmicos em trabalhos de conclusão de curso se debruçam sobre ela sempre em busca de novas veredazinhas nas grandes veredas da obra rosiana.
A saga de Riobaldo deixa de ser uma simples "aventura" no sertão para tornar-se alvo de reflexões sérias e universais acerca da existência humana e dois dos seus maiores problemas: a questão do bem e do mal. Torna-se objeto de especulações filosóficas, místicas, religiosas, metafísicas. É, portanto, motivo de inquietação não só para o jagunço letrado como também para todo aquele que se dispõe a ajudá-lo a caminhar pelas veredas do SER TÃO e fazer a travessia do Liso do Sussuarão, metáfora para a travessia interna de seu ser.
Trata-se, portanto, de uma obra singular, que a princípio incomoda pela peculiaridade com que Guimarães Rosa explora a linguagem oral do sertanejo. É o tipo da obra que o leitor deve estar preparado e disposto a enfrentá-la, a percorrê-la com Riobaldo, acompanhando atentamente seu relato "desorganizado". Mas, uma vez vencida a barreira da linguagem, o sertão se revela um lugar onde segundo Riobaldo, "tudo é e não é", onde "viver é muito perigoso".
Aliás, já nas primeiras páginas Riobaldo previne o leitor de que "o sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias" e que "Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinhozinho de metal"... Por aí se comprova sua tese sobre o perigo que é o viver. E que o diabo está "na rua no meio do redemunho".
A partir dessas inquietações, Riobaldo vai construindo sua narrativa e à medida que o vai fazendo, vai também lançando outras dúvidas relacionadas a ela a fim de compreender sua trajetória de vida como jagunço no sertão e o que a teria motivado, já que no momento do relato encontra-se, como ele mesmo diz, "de range rede", inventado no gosto de "especular ideia".
Um dos ou talvez o principal motivo de Riobaldo para refazer suas andanças no sertão mineiro através da memória é o seu relacionamento confuso e trágico com o companheiro de ofício Reinaldo-Diadorim. É a partir daí que se tece o relato, pois segundo Riobaldo, tudo começa e termina em Diadorim. É, portanto, um livro que não se deve deixar de ler, principalmente para aqueles leitores que gostam de se sentirem desafiados.
Assim é Guimarães Rosa, assim é Grande sertão: veredas: um eterno vir a ser, um eterno desafio.
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