OSCAR WILDE E O RETRATO DE DORIAN GRAY








Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde
nasceu a 16 de outubro de 1854 em Dublin. Segundo filho de pais dotados de supostas inclinações literárias, tendo o pai publicado os resultados de suas pesquisas sobre antiguidades e folclore irlandês a que era dado em alguns livros e a mãe publicado panfletos inflamados acerca de seus ideais revolucionários, o menino Oscar criado até certa idade como menina diante da recusa da mãe em aceitar mais um filho homem, cresceu num ambiente de vaidade e ostentação, já que sua casa tornara-se um ponto de encontro entre literatos e boêmios.

Assim, desde cedo começou a alimentar sentimentos de superioridade e, além disso, apesar de nunca ter sido visto estudando profundamente, sempre obteve notas brilhantes em todas as escolas que frequentou, destacando-se também pela excentricidade de seus gestos e vestimentas e pelas longas madeixas que cultivava. Apresentava-se em sociedade sempre com um lírio ou um girassol na mão ou na lapela do casaco, tornando-se esta mania uma espécie de marca registrada do autor.

Após deixar a faculdade, influenciado pelo amigo John Ruskin, Oscar Wilde tornou-se um grande conferencista, tendo proferido palestras em diversos países. Conseguiu também grande destaque no mundo do teatro, devido às peças que escrevia nos intervalos de suas viagens. Durante algum tempo Oscar viveu uma vida tranquila ao lado da esposa com quem casara em 1884 e dos filhos, sendo um marido apaixonado e um pai dedicado.

Todavia essa monotonia começou a pesar sobre ele e após conhecer Robert Ross em 1886, o escritor levado por ele iniciou suas experiências homossexuais, as quais tornar-se-iam um hábito a partir de 1889, quando escreveu O retrato de Dorian Gray, seu único romance. Como era de se esperar, o livro de Wilde não foi bem recebido pelos críticos mais moralistas e conservadores, que o classificaram como uma obra envenenadora dos costumes, uma vez que prega e discute ideias avançadas para a moral e os costumes da época, abordando o homossexualismo, por exemplo.

Nesta obra, começando pelo prefácio apresentado:

O artista é o criador de coisas belas. Revelar a arte e ocultar o artista é a finalidade da arte. O crítico é quem pode traduzir de outro modo ou para um novo meio sua impressão sobre coisas belas.  A mais elevada modalidade de crítica, é também a mais baixa, é uma forma de autobiografia.

Aqueles que encontram significados feios em coisas belas são corruptos sem serem encantadores. Isso é um defeito. Aqueles que encontram significados belos em coisas belas são os cultos. Para estes há esperança. Eles são os eleitos para os quais as coisas belas significam somente Beleza.

Não existe livro moral ou imoral. Livros são bem escritos ou mal escritos. Isso é tudo. A aversão do século XIX pelo Realismo é a fúria de Caliban ao ver o próprio rosto em um espelho. A aversão do século XIX pelo Romantismo é a fúria de Caliban ao não ver o próprio rosto em um espelho.

A vida moral de um homem é parte do tema do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. O artista não deseja provar nada. Mesmo as coisas verdadeiras podem ser provadas.

O artista não tem inclinações éticas. Uma inclinação ética em um artista é um maneirismo imperdoável de estilo. O artista nunca é mórbido. O artista pode expressar tudo.

Pensamento e linguagem são para o artista instrumentos de uma arte. Vício e virtude são para o artista materiais para uma arte. Do ponto de vista da forma, a arte exemplar é a do músico. Do ponto de vista do sentimento, a arte do ator é a exemplar. 

Toda arte é ao mesmo tempo superfície e símbolo. Aqueles que vão além da superfície assumem um risco ao fazê-lo. Aqueles que leem o símbolo assumem um risco ao fazê-lo. É o espectador, e não a vida, que a arte verdadeiramente espelha.

A diversidade de opinião sobre uma obra de arte demonstra que tal trabalho é novo, complexo e vital. Quando críticos discordam, o artista está em acordo consigo mesmo. Podemos perdoar um homem por fazer alguma coisa útil, desde que ele não a admire. A única desculpa para fazer alguma coisa útil é podermos admirá-la intensamente.

Toda arte é completamente inútil.

Oscar Wilde discute também a importância e o valor da Arte na vida do homem, além de assuntos como a beleza e a juventude eternas. Neste sentido podemos classificá-lo como um romance de cunho estético, como é possível perceber no excerto a seguir:

--- Harry --- disse Basil Hallward, olhando-o cara a cara ---, todo retrato pintado com sentimento é um retrato do artista, e não do modelo. O modelo é apenas o acidente, o pretexto. O pintor não o revela a ele, o pintor é que se revela a si mesmo na tela colorida. O motivo por que não exponho este quadro é o medo de que eu tenha revelado nele o segredo da minha alma. [...] Há dois meses, fui a uma recepção em casa de Lady Brandon. [...] Virei-me e vi Dorian Gray pela primeira vez. Quando nossos olhos se encontraram, senti que empalidecia. [...] Sabia que tinha deparado com alguém de personalidade tão fascinante que, se eu o permitisse, iria absorver todo o meu ser, toda a minha alma, a minha própria arte. [...] Agora é ele toda a minha arte. [...] Às vezes penso, Harry, que há apenas duas eras realmente importantes na história do mundo. A primeira é o aparecimento de um novo meio para a arte, e a segunda é o aparecimento de uma nova personalidade também para a arte. O que foi para os venezianos a invenção da pintura a óleo, o rosto de Antínoo para a escultura grega tardia, e o que será um dia para mim o rosto de Dorian Gray. E não é apenas por ser ele o tema da minha pintura, e dos meus desenhos, e dos meus esboços. Evidentemente que fiz tudo isso. Mas, para mim, ele significa muito mais do que um modelo. Isto não quer dizer que me sinta insatisfeito com o que fiz dele, ou que a sua beleza seja de tal ordem que a Arte não pode exprimi-la. Não há nada que a Arte não possa exprimir, e reconheço que todo o trabalho que realizei desde que conheci Dorian Gray é um trabalho de qualidade, é a melhor obra da minha vida. Mas, é curioso que - será que você vai me compreender? - a personalidade dele sugeriu-me uma forma inteiramente nova em arte, um estilo inteiramente novo. Vejo as coisas e penso nelas de maneira diferente. Posso agora recriar a vida de um modo que me estava oculto. [...] Um artista deve criar coisas belas, mas sem que nelas ponha seja o que for da sua vida pessoal. (WILDE, p. 11-18, 2000)

O enredo gira em torno do personagem-título, Dorian Gray, que tem seu retrato pintado por Basil Hallward, que por sua vez acredita ter encontrado na beleza, na personalidade e na juventude do rapaz um novo estilo de arte. O jovem, entretanto, instigado pelas ideias excêntricas e avançadas de Lord Harry (amigo de Basil também) faz um pacto com uma estátua, trocando sua alma pela juventude eterna. A partir daí os fatos se desenrolam, ocasionando crimes e suicídios, enquanto o retrato e o modelo sofrem transformações opostas um em relação ao outro. Em 1945 a obra de Wilde foi transposta para o cinema, sendo considerada na época um marco da expressão gótica.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

WILDE, Oscar. De profundis. Trad. Jean Melville.1 ed. São Paulo: Martin Claret, 2003. 
WILDE, Oscar. O retrato de Dorian Gray. Trad. Maria de Lurdes Sousa Ruivo. (meio eletrônico) 1 ed. São Paulo: Abril Controljornal, 2000. 



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