DA SÉRIE DICAS DE LEITURA - VIAGEM AO REDOR DO MEU QUARTO, de XAVIER DE MAISTRE


Com um título um tanto quanto inusitado e 42 capítulos curtinhos acomodados em 75 páginas, Viagem ao redor do meu quarto, é um daqueles livros despretensiosos publicado em 1795, cuja escrita demorou exatos 42 dias. E como o próprio título sugere, o autor nos mostra que é possível viajar sem fazer malas e sem ter que sair de casa, apenas permanecendo encerrado em seus aposentos.

A viagem começa quando Xavier de Maistre, militar de carreira, após se bater em duelo com um oficial piemontês, recebe como punição um confinamento de 42 dias (uma espécie de quarentena particular) em seu quarto, na cidade italiana de Turim. Assim, para passar o tempo mais rapidamente ele resolve empreender essa excêntrica viagem. 

E então se dirigindo a nós leitores ou futuros passageiros (como o faz frequentemente ao longo das 75 páginas), após uma breve apresentação da obra, ele deixa um convite bem caloroso:

"Sigam-me, todos vocês a quem as dores de amor ou o descaso dos amigos retêm em seus cômodos, longe da mesquinhez e da perfídia dos homens. Que todos os infelizes, os doentes e os entediados do universo me sigam! --- Que todos os preguiçosos se levantem em massa! --- E você, que rumina em seu espírito projetos sinistros de reforma ou de retiro por alguma infidelidade; você, que no fundo de uma alcova renuncia ao mundo pelo resto da vida; vocês amáveis anacoretas de uma noite só, venham também: abandonem, por favor, essas ideias sombrias; estão desperdiçando um instante de prazer sem ganhar sabedoria alguma. Queiram me acompanhar na minha viagem; faremos um trecho curto por dia, zombando, ao longo do caminho, dos viajantes que viram Roma e Paris; nenhum obstáculo poderá nos deter; e, entregando-nos alegremente à nossa imaginação, nós a seguiremos seja lá aonde ela queira nos levar".  [MAISTRE,  p. 02, 2020]

Portanto, reservem suas passagens e não percam a chamada para o embarque nesse voo diferenciado de Xavier de Maistre. 

Ah! Qualquer breve semelhança encontrada com Memórias póstumas de Brás Cubas, do nosso Machado de Assis não será coincidência nem será em vão. Machado também embarcou na viagem e nela pegou inspiração para construir seu romance, como ele mesmo o confessa em seu prefácio: 

[...] Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Braz Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, de um Lamb, ou de um de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

MAISTRE, de X. Viagem ao redor do meu quarto. Trad. Veresa Moraes. 1 ed. São Paulo: Editora 34, 2020. 





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