OS MELHORES PREFÁCIOS DA LITERATURA UNIVERSAL - PAMELA, de SAMUEL RICHARDSON





Com a intenção de divertir e distrair e, ao mesmo tempo, instruir e aperfeiçoar a mente dos JOVENS de ambos os sexos;

Com a intenção de ensinar religião e moralidade de uma maneira tão fácil e agradável que seja capaz, ao mesmo tempo, de torná-las prazerosas e proveitosas;

Com a intenção de explicar, da forma mais clara possível, os deveres paternos, filiais e sociais;

Com a intenção de pintar os maus hábitos com as cores que lhes cabem, de modo a lhes tornar merecidamente odiosos, e de apresentar a virtude com sua própria luz afável de modo a fazer com que pareça atraente;

Com a intenção de retratar personalidades com imparcialidade e de apoiá-las com clareza;

Com a intenção de colocar à mostra a angústia de causas naturais e de estimular a compaixão apenas de alguns;

Com a intenção de ensinar ao homem próspero como usar sua fortuna, ao homem apaixonado como dominar sua paixão, e ao homem maledicente como se regenerar de um modo elegante e digno;

Com a intenção de dar exemplos práticos e adequados a serem seguidos pela virgem, pela noiva e pela esposa em situações mais críticas e aflitivas;

Com a intenção de atingir bons resultados da maneira mais provável, mais natural e mais ágil, como o entusiasmo que deve envolver cada leitor sensato, e manter sua atenção na história;

E tudo sem levantar a mais simples dúvida sobre o conteúdo que possa chocar a pureza mais escrupulosa, mesmo nos momentos mais ardentes em que esta pureza venha a se sentir mais apreensiva.

Se essas recomendações são louváveis e valerem a pena, o editor das cartas seguintes, baseadas tanto na Verdade quanto na Natureza, se arrisca a afirmar que todas as intenções reunidas podem ser alcançadas aqui. 

Portanto, confiante da recepção favorável com que se arrisca a indicar esse seu pequeno trabalho, julga desnecessária qualquer apologia a ele, por dois motivos: primeiro por poder recorrer à sua própria paixão (àquela a que tem sido levado a examinar detalhadamente) e às paixões de todos os que venham a lê-lo com atenção, e depois porque o editor pôde julgá-lo com a imparcialidade que raramente um autor costuma ter. 


RICHARDSON, S. Pamela ou a virtude recompensada. Trad. Carlos Duarte; Anna Duarte. 1 ed. São Paulo: Martin Claret, 2016.  

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