Falar sobre a vida de Judy Garland não é fácil. Judy Garland por si só já era um filme.
Todos sabemos que Judy Garland foi um dos ícones máximos de Hollywood. Em 1935, aos 13 anos assinou seu primeiro contrato com os estúdios MGM, onde viria a estrelar o inesquecível e emblemático O mágico de Oz (como a garotinha Dorothy Gale), lançado quatro anos depois. Dona de um talento precoce e excepcional para a idade, Judy Garland, tinha tudo para ser bem-sucedida na carreira e na vida pessoal, pois era considerada uma "máquina de fazer dinheiro". Entretanto, não foi bem assim.
Apesar de seu visível talento, Judy não possuía a mesma beleza e personalidade de outras atrizes-protagonistas da época, como Ava Gardner, Lana Turner ou Elizabeth Taylor. Consciente disso, a pequena Judy desenvolveu uma grande preocupação com sua aparência, agravada ainda mais pelos constantes abusos psicológicos que sofria do chefe do estúdio Louis B. Mayer, chamando-a de "pequena corcunda", entre outras coisas.
Antes do lançamento de O mágico de Oz em 1939, a jovem atriz entrou num ritmo frenético de trabalho, fazendo parte do elenco ou estrelando outros oito (!) filmes. E, assim, para conseguir desempenhar bem seus papéis e aguentar as horas seguidas de gravação, ela e outros atores jovens do elenco eram obrigados a consumir anfetaminas, barbitúricos e outras drogas pelos produtores e diretores do estúdio.
Mas para Judy, a situação era ainda pior, pois além de ser manipulada por diretores e produtores, era também controlada por sua mãe, que fazia o papel de sua agente, decidindo o que ela podia vestir, onde podia ir, o que podia comer (dando-lhe pílulas para inibir o apetite), quando podia dormir, entre outras regras doentias. Durante as gravações de O mágico de Oz, Judy chegou mesmo a ser agredida fisicamente com um tapa no rosto pelo diretor do filme, após uma crise de riso fora de hora, o que a levou a desenvolver uma profunda depressão. Além disso, apesar dos 16 anos já da pequena atriz, ela era obrigada a se passar por uma garotinha mais nova no filme, usando vestidos apertados na cintura e faixas para esconder os seios, o que a incomodava bastante.
A partir de 1940 ela começou a ganhar papéis adultos, como no filme Little Nettie Kelly, no qual interpretou mãe e filha, alcançando status de estrela da MGM, porém sofrendo com mais abusos e assédio sexual de diretores, produtores e colegas de profissão. Disposta a livrar-se desse meio em que era constantemente criticada pela aparência e sofrendo diversos tipos de abuso, Judy quis desistir da carreira, entretanto, viu seus planos fracassarem por imposição da mãe, que a obrigou a continuar. Assim, vivendo sob esse contínuo stress, acabou desenvolvendo crises de pânico e ansiedade, o que a levou ao vício em álcool e cigarros, além dos barbitúricos.
Nessa época ainda, Judy começou seus primeiros relacionamentos amorosos, num total de cinco casamentos desfeitos, sendo frequentemente traída por seus maridos, além de sofrer agressões físicas, levando-a a praticar abortos para não prejudicar a carreira, tentativas de suicídio e o desenvolvimento de uma anorexia alcóolica, devido a pressões do estúdio para que não engordasse. Em 1947, a eterna Dorothy sofre um colapso nervoso durante as filmagens de The pirata, sendo internada num hospital psiquiátrico, tornando-se viciada em antidepressivos e ansiolíticos.
Após esse episódio, ela completou mais três filmes para a MGM, mas poucos meses depois seus problemas psicológicos e emocionais agravaram-se, forçando-a a consultar psiquiatras e a frequentar sessões de psicoterapia, o que fez com que deixasse de completar uma série de filmes. Acabava aí a relação turbulenta da atriz com os estúdios MGM, selada em 17 de junho de 1950.
Depois desse período, Judy viveu anos de voltas e reviravoltas em sua carreira e na vida pessoal. E, mesmo tendo sido diagnosticada com cirrose hepática e recebido uma expectativa de vida de mais cinco anos (em 1959), ela não deixou de trabalhar, aceitando uma proposta para cinco semanas de apresentação em Londres, na boate Talk of the Tow em fevereiro de 1969, provando que a doença não a derrotara.
Na viagem conheceu o último marido, com quem casou-se em 17 de março do mesmo ano, tendo feito um último concerto em Copenhage, três dias depois. Mudando-se definitivamente para Londres, Judy foi encontrada morta pelo marido no banheiro de sua casa aos 47 anos no dia 22 de junho. Era o fim de uma vida, mas não o fim de um ícone. Era o fim do arco-íris, um arco-íris que para ela nunca fora colorido. Pelo contrário. Era sempre em preto e branco.
A cinebiografia Judy Garland - muito além do arco-íris lançada em 2019 baseia-se no último ano de vida da atriz, intercalando o momento presente, no qual ela luta pela guarda dos filhos mais novos e está em Londres para as apresentações com flasbacks do passado, em que rememora os anos de abuso psicológico que sofria nos estúdios da MGM. E a mostra já bastante fragilizada devido aos excessos de álcool, cigarros e remédios para dormir, além da personalidade difícil e perturbada pelos anos de vício.
O destaque fica por conta da atuação de Renée Zellweger (sim, a gordinha de O diário de Bridget Jones), que está irreconhecível como Judy Garland, tendo estudado com requintes de detalhes todos os trejeitos da atriz. Demorei uns 20 minutos para reconhecê-la no papel.
Curiosidade: Lisa Minelli, a filha mais velha de Judy Garland não aprovou o filme biográfico sobre sua mãe.
Fonte de pesquisa: Wikipédia
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